O “asado” (o equivalente ao”churrasco” brasileiro) é feito por cada um e por todos. Um acende o fogo, outro serve a água, o vinho ou a cerveja. Outro tira a gordura da carne e outro corta os queijos e salames para a entrada, aqui chamada de “picadita”. Outro que aguanta a chuva para poder continuar cuidando da carne (porque aqui a chuva não suspende o “asado”) e outro que segura o guarda-chuva. O “asador” ganha os aplausos (“Un aplauso al asador!”) e todos juntos aplaudimos.
Os “asados” são organizados porque… porque sim! Não precisa ser o aniversário de alguém, ou um feriado – ainda que essas datas também sejam motivos para colocar uma carne no fogo, claro. Se somos dez, excelente! A frase “quantos mais, melhor” é a mais pura verdade. Se somos somente três, também está ótimo; teremos menos “choripanes” (pão com linguiça), “colitas de cuadril”, matambres, pernilzinho ou qualquer outro corte de boa carne. Mas sempre estára a premissa mais importante intacta: a alegria do encontro.
Uma boa maneira de definir o “asado” é uma desculpa para estar perto das pessoas queridas. Se algum integrante da mesa não pode, por qualquer motivo, comer carne, faremos uma super salada muito colorida ou algumas verduras na grelha para que tenha o prato cheio. De todas formas, deve estar claro que o sabor do “asado” esconde um segredo que o faz único. “Ainda que sejam publicados livros explicando como fazer um bom ‘asado’, nenhum texto parece superar a intuição do especialista que cada argentino tem dentro”, disse Juan Pablo Meneses, escritor chileno. Alguns falam de intuição. Outros preferem usar a palavra carinho.
Um mundo atrás da “parrilla”
A arte culinária se extende até nos acompanhamentos. Além dos molhos, na Argentina usamos a “salsa criolla” (cebola, tomate, cebolinha, pimentão verde e vermelho, vinagre, aceite e sal) e o famoso “chimichurri” (salsinha, orégano, alho, cebola, pimenta). Conselho: não conte para ninguém que o “chimichurri” foi inventado por um inglês chamado Jimmy que, quando experimentou a carne feita pelos “gauchos”, decidiu colocar curry. De “Jimmy’s curry” até “chimichurri” foi um passo.
Um “asado” sem histórias é como uma partida de futebol sem gols; é divertido mas deixa gostinho de querom mais. “Medio pelo”, diria um portenho. Aqui entra a importância de uma habilidade curiosa y muito, muito útil, que todo argentino tem: essa capacidade de transformar qualquer história comum e cotidiana em algo tão engraçado que todo mundo morre de rir. E daí vem a outra parte, no caso de que ainda não tenha ficado claro: os argentimos são exagerados, muito exagerados! De fato, somos os indivíduos mais exagerados do mundo!
Outro conselho: não cometa a loucura de tentar comparar o “asado” com um barbecue, por favor. Não, isso não. Porque algum dos argentinos presentes vai com certeza querer explicar em detalhes o que é um “asado”, contando tudo o que já dissemos e ainda um pouco mais. Lembre-se… exageramos…
Passos para um fazer a”asado”:
Comprar a carne e o carvão: o “asador”, normalmente com um ou dois amigos, se encarrega da compra das carnes, do carvão e da salada.
O fogo: demora o tempo que demora e ter pressa não ajuda. O “asador” sempre vai gostar se alguém trouxer um violão e todos estiverem cantando enquanto calmamente esperam que as carnes fiquem prontas.
“Picada” e vinhos: com a carne já assando, os convidados cortam queijo, salame, presunto e abrem o primeiro vinho. Se o evento saiu sem organização, batatas fritas e amendoim são outras excelentes opções.
“Chorizos” e “morcilla”: o que primeiro sai da “parrilla” e muitas vezes dentro dos pães. Há uma intensa discussão sobre se são a estrela da mesa ou uma simples entrada.
O “asado”: dependendo de quem é o “asador”, pode haver carne de gado, porco ou frango, que vão ficando prontas em etapas e o “asador” vai sempre comendo enquanto serve.
Aplauso: sempre, sem exceções!